quarta-feira, junho 18, 2025

ARTIGO DE ANTHONY RASIB




 Por que o mundo chora menos por Parnia? 

A jovem poetisa iraniana entre as primeiras vítimas da fúria de Israel


Em meio ao horror dos recentes ataques, a vida e os sonhos de uma alma sensível foram brutalmente ceifados, deixando um vazio doloroso e a lembrança de que a guerra não poupa nem mesmo a inocência dos poetas.

No turbilhão de notícias e imagens de destruição que emergem do conflito, um nome ressoa com uma tristeza particular: o de Parnia Abbasi, uma jovem poetisa iraniana (2002-2025), que se tornou uma das primeiras vítimas dos ataques. Parnia, junto com sua família (todos civis), foi morta em um brutal e ilegal ataque do regime sionista israelense no bairro de Sattarkhan, em Teerã, como noticiado pela Pamenar Press (15/06/2025).

Parnia era uma moça cheia de esperanças, com a alma transbordando em versos que buscavam a beleza em um mundo complexo. Imagine os poemas que ela sonhava escrever, as metáforas que ainda habitavam sua mente jovem e os sentimentos que esperavam ser traduzidos em palavras. Parnia expressava em sua poesia a melancolia, um de seus poemas, "A Estrela Apagada", traduzido por Ghazal Mosadeq e publicado postumamente, ecoa a dor e a efemeridade da vida:


Eu chorei pelos dois.

por você.

e por mim.

você sopra as estrelas, minhas lágrimas.

no seu mundo a liberdade da luz.

no meu, a perseguição de sombras.

você e eu chegaremos ao fim em algum lugar.

o poema mais bonito do mundo se cala.

você começa em algum lugar a chorar o murmúrio da vida.

mas eu terminarei.

eu queimarei.

Eu serei aquela estrela apagada.

No seu céu.

como fumaça.


Cada poema não escrito, cada inspiração que não floresceu, é um lamento que se junta ao coro de dor de famílias dilaceradas. A arte, em sua essência mais pura, busca construir pontes, expressar a beleza e a complexidade da alma humana. Mas, ironicamente, foi exatamente essa beleza que foi silenciada por atos de guerra.

Quantas outras vidas, cheias de promessas e talentos, foram ceifadas ou irremediavelmente marcadas por essa escalada de violência? A cada notícia de ataque, não são apenas números que aumentam, mas histórias inteiras que são interrompidas. São sonhos de um futuro, abraços que nunca acontecerão e vozes que se calam para sempre.

A imagem de uma poetisa, uma jovem alma que encontrava na palavra seu refúgio e sua forma de expressão, virando estatística de guerra, é um soco no estômago da humanidade.

Ela nos força a olhar para o custo humano dos conflitos, para a perda irrecuperável de quem, com sua sensibilidade, poderia ter nos oferecido um novo olhar sobre o mundo. E, ironicamente, a comoção em torno de Parnia e de outras vítimas não atingiu a mesma intensidade que o regime sionista de Israel tenta fabricar quando ocorrem vítimas da própria guerra que eles criaram, mostrando a disparidade na narrativa e na empatia global.

Que a lembrança de Parnia Abbasi e de tantas outras vítimas inocentes seja um alerta pungente sobre a necessidade urgente de paz e compaixão, para que mais melodias não sejam silenciadas e mais versos não se percam no eco da destruição.

Anthony Rasib

sábado, junho 14, 2025

ARTIGO DE ANTHONY RASIB



Prefeitos no holofote em Israel : Quando a Selfie vale mais que o Saneamento Básico

Atualmente, um movimento constante de viagens de prefeitos brasileiros para Israel tem chamado a atenção, gerando questionamentos sobre suas reais prioridades. Um fenômeno curioso e, para muitos, estranho, que merece o olhar atento da população: qual é, de fato, o objetivo e o benefício dessas missões?

Todo cidadão brasileiro sabe que seu bairro, sua cidade ou sua região carece do olhar político e humano de seus representantes. Enquanto alguns gestores atuam de forma questionável no meio ambiente, outros fecham os olhos para a falta de medicamentos em UPAs, hospitais sem material e médicos, escolas abandonadas e ruas escuras. No entanto, parece que ainda há tempo e recursos para uma viagem integralmente paga por um governo acusado de crimes contra a humanidade.

Em junho de 2025, uma comitiva de prefeitos e vice-prefeitos do Brasil embarcou para Israel, a convite do governo israelense, de inclinação de extrema-direita e ideologia sionista. O objetivo declarado era participar de uma feira de tecnologia e buscar inovações para suas cidades. Mas, a pergunta que ecoa é: será que esse “almoço” realmente sai de graça? Tudo pago e quais as contrapartidas? A viagem, contudo, se transformou em um episódio de grande repercussão política e legal, levantando sérios questionamentos sobre as prioridades, a ética e a diplomacia dos nossos líderes municipais.

Entre os “especialmente convidados” pelo governo israelense – acusado de inúmeros crimes contra a humanidade – estavam:

  Álvaro Damião (Prefeito de Belo Horizonte – MG)

  Nélio Aguiar (Prefeito de Santarém – PA)

  Johnny Maycon (Prefeito de Nova Friburgo – RJ)

 Welberth Porto de Rezende (Prefeito de Macaé – RJ)

 Cícero de Lucena (Prefeito de João Pessoa – PB)

 Janete Aparecida Silva Oliveira (Vice-Prefeita de Divinópolis – MG)

 Maryanne Terezinha Mattos (Vice-Prefeita de Florianópolis – SC)

 Vanderlei Pelizer Pereira (Vice-Prefeito de Uberlândia – MG)

 Cláudia da Silva Lira (Vice-Prefeita de Goiânia – GO)

 E o governador de Rondônia, Marcos Rocha.

A viagem desses políticos já era encarada com estranheza diante dos conflitos acirrados entre Israel e Irã. Fazer uma missão nestes tempos, colocando suas próprias vidas em perigo e, potencialmente, mobilizando a Força Aérea Brasileira em caso de necessidade, não pareceu uma ação madura e sensata. Muitos, inclusive, tiveram que se abrigar em bunkers. A informação de que os custos da viagem foram integralmente custeados pelo governo de Israel, com sua linha política, levanta um sério debate legal e ético no Brasil. A aceitação de benefícios como passagens e hospedagem de governos estrangeiros por agentes públicos pode configurar uma infração à Lei de Improbidade Administrativa e gerar um conflito de interesses. Mesmo com uma finalidade supostamente técnica, a aceitação de tal “presente” de um país em intenso conflito geopolítico e com potenciais interesses diplomáticos oculta um custo que poderá ser pago de outras formas.

Como essa seleção ocorreu? Essa é uma pergunta que exige respostas claras. Não foi uma viagem para todos os prefeitos do Brasil, mas sim de uma delegação específica. A escolha dos participantes se deu por meio de um convite formal da Embaixada de Israel no Brasil, direcionado a um grupo seleto de prefeitos e líderes estaduais com supostos interesses em tecnologia. A ironia é que a conta final dessa “experiência” pode recair sobre os cidadãos de seus municípios, que não desejam colaborar indiretamente com a guerra e a fome que assola crianças, mães de família e idosos em outras partes do mundo.

Os critérios para essa seleção específica, no entanto, não foram amplamente detalhados publicamente, gerando dúvidas sobre a transparência do processo da Embaixada de Israel no Brasil e se houve algum viés na escolha dos participantes.

A situação ganha camadas mais grossas quando se considera o histórico de alguns desses gestores e os problemas que persistem em suas próprias cidades. Focando estritamente em acusações que já possuem alguma forma de comprovação legal ou administrativa definitiva:

• Em Goiânia (GO), a vice-prefeita Cláudia da Silva Lira teve seu registro de candidatura e o do prefeito eleito, Sandro Mabel, cassados pela Justiça Eleitoral de Goiás em dezembro de 2024. A decisão se deu por abuso de poder político, uma acusação com desfecho legal comprovado.

Essa realidade, onde há decisões judiciais ou administrativas definitivas contra gestores, contrasta drasticamente com a busca por visibilidade internacional, enquanto as populações de suas cidades enfrentam desafios urgentes e muitas vezes negligenciados:

  Em Belo Horizonte (MG), apesar dos avanços, a capital mineira ainda lida com desafios na saúde pública, como superlotação de UPAs e a demanda por exames e consultas especializadas. A mobilidade urbana e a segurança pública em algumas regiões também são queixas constantes dos cidadãos.

  João Pessoa (PB) enfrenta dificuldades na infraestrutura básica, principalmente em bairros carentes, com problemas no saneamento básico, na saúde e na educação pública.

  Macaé (RJ), mesmo sendo uma região com forte arrecadação pela indústria do petróleo (o que torna sua inclusão no convite de Israel ainda mais curiosa), ainda lida com a distribuição desigual da riqueza, gerando disparidades sociais e problemas em serviços públicos.

  Nova Friburgo (RJ), marcada por tragédias no passado, ainda sofre com a falta de infraestrutura de contenção de encostas e habitação segura para seu povo.

  Santarém (PA), localizada na Amazônia, padece sem saneamento básico (acesso a esgoto e água potável), tem saúde precária nas comunidades ribeirinhas e enfrenta a falta de interesse escolar em algumas regiões.

  Divinópolis (MG) tem problemas na gestão de resíduos sólidos, com necessidade de investimento em pavimentação e drenagem, além de uma saúde de baixa qualidade.

   Florianópolis (SC), mesmo com alto IDH, também sofre com a mobilidade urbana, problemas no transporte público e o acesso à moradia.

  Uberlândia (MG), uma das maiores cidades mineiras, enfrenta questões sérias de segurança pública, e desafios estratégicos para o aumento da população que demanda mais saúde e educação.

  Goiânia (GO) tem problemas recorrentes na saúde pública, como falta de leitos e de médicos. A mobilidade urbana da capital goiana está um caos, com falta de planejamento e muitos congestionamentos.

  O estado de Rondônia, liderado pelo governador Marcos Rocha, padece com uma saúde de baixa qualidade, sem estrutura hospitalar e acesso em áreas remotas. A segurança pública enfrenta o combate ao crime organizado e fronteiriço.

Essa realidade local, com problemas que afetam diariamente os cidadãos, levanta a questão, ecoada nas redes sociais: é justificável que líderes com tais responsabilidades e, em alguns casos, com acusações comprovadas, priorizem uma viagem internacional, custeada por um país envolvido em crimes contra a humanidade? Não deveriam estar atentos às necessidades de sua população, que não tem nenhuma viagem custeada ou ônibus pago quando vai trabalhar, e que não compactua com a guerra e a morte de civis? Estariam, de fato, focados na lisura e nas demandas de suas administrações, ou a busca por uma experiência financiada e, talvez, uma projeção política, sobrepõe-se à urgência dos desafios internos?

A presença e o apoio tácito, ou até explícito em alguns casos, ao governo israelense por parte desses prefeitos brasileiros, no contexto de um conflito perigoso e complexo que envolve sérias acusações de violação de direitos humanos contra palestinos e libaneses, coloca o Brasil em uma posição delicada no cenário internacional.

Historicamente, o Brasil, a ONU e a maioria dos países europeus têm defendido uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestino, e alguns já reconheceram o Estado da Palestina, condenando a violência contra civis de ambos os lados e as ocupações territoriais feitas por colonos israelenses. Quando esses representantes eleitos de cidades brasileiras se alinham tão claramente a um dos lados do conflito, especialmente um lado acusado de cometer o “terror camuflado” contra inocentes, eles não só divergem da linha diplomática oficial do Brasil, mas também podem minar a credibilidade do país como um ator promotor dos direitos humanos e da paz entre os envolvidos.

Essa viagem, e outras que líderes do Estado de São Paulo já fizeram sem aplicação concreta de benefícios para a população, vai além de um simples intercâmbio tecnológico. Ela expõe fragilidades éticas, prioridades questionáveis desses líderes municipais e um alinhamento político que, para uma grande parcela da população mundial, está em contramão com os princípios de justiça e equidade defendidos pela comunidade internacional.

Devemos estar atentos a essas viagens custeadas, enquanto o povo brasileiro paga o verdadeiro preço.

Anthony Rasib

segunda-feira, junho 09, 2025

POEMA DE RODRIGO POETA PUBLICADO EM BANGLADESH



Minha participação com o poema 
"Adeus Francisco" na Revista Internacional Netrazol Literary Magazine de Bangladesh,  através da Editora Literária Diane Ouverney representante no Brasil.