sábado, outubro 01, 2005

POESIARTE EM FOCO DE MANO MELO


A poesiarte apresenta: Mano Melo. Poeta e ator.


Vejamos uma de suas poesias:


"LEBLON DOS BRACARENTES,JOBILADOS
E GUANABARINOS"
Acordo ao meio-dia no sábado de tempo bom.
Vou fazer meu périplo
Pelo bairro do Leblon.
Começo na Rio-Lisboa,
Com um suco, média tamanho triplo,
Um pão na chapa e um ovo no ponto.
Sobre a morena elegante que virou a cara
E fingiu não me notar,
Depois eu conto.
Mas tem a ver com um lance
Lá no Guanabara,
Em que devorou uma pizza horrorosa
De sardinha com lingüiça.
Custava os olhos da cara,
E quem pagou fui eu.
(Antes fosse o Alceu,
Aquele poeta -valença com alma de criança).

Depois do café,
Caminhar a pé
Do Leblon a Ipanema.
Cruzei com Maria Lúcia,
Uma artista de cinema
Tipo assim loura devassa,
Em plena temporada de caça.
Perguntou se eu tinha um baseado,
Ou mesmo uma bagana.
Me ofereci como seu amado,
Seu ursinho de pelúcia,
Sua onça sussuarana,
Seu rato de banhado,
Mas só podia lhe oferecer
Uma pinga com limão.
Ela respondeu: nordestinos não me despertam tesão.

Não armei nenhum barraco.
Enfiei a viola no saco
E fui cantar noutra freguesia.

Já passava das três horas,
Entrei lá no Bracarense,
Dei de cara com o Zequinha, o Popó e a Renata
Da Academia da Cachaça
(Pena que Annette Leibing foi morar
em Toronto
Senão
estaria entre nós).
O professor Eppinghaus conversava com o Queiroz,
O alemão Günther e um português de Figueira da Foz.
Kiki, Laurinha e o doutor Marcus Renato

Levavam um papo cabeça com o Pedro Arquiteto
E o Chico Granadero.
Chegou o carequinha Nélson Ricardo
E uma torcedora do Fluminense.
Que belo traseiro!
Seu nome? Maria Joana,
De vulgo Maria Fumaça,
Que escreveu na camiseta:
O que vier a gente traça.
Cumprimentei Ernesto, Chico e Dirceu,
Tomei um chopp e saí fora
Com Cláudio Lisboa e mais dois roteiristas do Renato Aragão.
Fomos ao boteco do Joaquim
Na Rua Cupertino Durão
(Alguns preferem chamar de Rua do Cu Pertinho do Durão).

Dali para o Tio Sam.
Estava lá João Ubaldo
Acompanhado daquela morena dançarina do Tchán.
Os dois discutiam sobre Lacan.
Ela pediu ao garçon: me trás um caldo,
Meu Rei!
O cara ficou tão nervoso
De ser chamado de Rei
Por aquela Rainha
Que ao invés do caldo
Lhe trouxe um osso
Mergulhado na farinha.
Depois saiu dançando numa perna só
Cantando a musiquinha da eguinha pocotó.

No Arataca da Cobal
Avistei o Carlos Magno,
Figura rara, magnânima.
Leu a minha sorte e fez meu mapa astral:
Depois que completasse sessenta
Eu realizaria todos os meus amores
E acenderia charutos com notas de mil.
Morreria aos cento e trinta
Nos braços de uma ninfeta de noventa.

Do Arataca ao Gabriel dos Açores.
Encontrei Saraceni , Soraya, Maria Gladys, Ricardo Ruiz,
Renato,Tavinho Paes, Dalmo Castelo,
João Fontes, Abel Silva, Antonio Pedro e Mano Melo.
Depois chegaram a Eliane e o Chico Caruso.
O papo estava confuso,
Mas todo mundo feliz.
Antonio Pedro discursava que o Leblon era uma selva.
Uma selva de pedra - completava o Abel Silva.
- Selva de pedra não,
A Ilha das Maravilhas,
Rebateu, exaltado, o Ruiz.
- Nem ilha nem selva,
Uma praia,
Discordava o Renatão.
- Uma praia carinhosa, uma prainha!
Fechou Tavinho Paes, comendo um naco de pão.
- Data Vênia! Data Vênia!
Anistia para o chopp de vocês!
Discursou, impoluto, o João Fontes:
- É preciso fazer leis
Para preservar nosso horizonte!
Dalmo Castelo batucou na mesa
E criou na hora um samba-exaltação:
Maria Gladys é a rainha
A quem o sol diz bom dia
E Soraya uma sereia
Cercada de tubarão.
Batamos os copos,
Brindemos olhando nos olhos!
Quem brinda sem olhar nos olhos
Passa sete anos sem trocar o óleo!

Já vi onde termina o babado
Deste sábado.
Menino,
Nesse andar da carruagem,
Meu bolso vai bater pino.
Se eu passar no Bar do Tom
Talvez o João Sérgio me ofereça umas cervas.
Ou vou lá na Argumento,
Compro o disco do Nelson Sargento
E lavo o estômago com aquele chá de ervas
Que eles servem no Café Severino.

Vou descendo a ladeira -
Sem marcar bobeira, extrapolar meus porres
Nem ficar bebum.
Encontro o Alfredo, aquele jornalista do JB
De sobrenome complicado.
Jurou por Deus e por tudo de sagrado:
- Deixei de beber.
E convidou para uma dose de rum
No Café Antonio Torres
Da Letras e Expressões.
Beleza! Assim poupo uns tostões
Para a saideira.

E saideira que se preza
Tem que ser no Jobi.
Ó Paiva! reserva uma mesa
Para o meu chapéu.
Diz pra Melissa Mell
Que espere por mim!

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