domingo, outubro 30, 2005

POESIARTE EM FOCO DE WALDEMIR TERRA CARDOSO


A poesiarte apresenta: Waldemir Terra Cardoso. Poeta cabo-friense.


Vejamos uma de suas poesias:


"Zé Tarrafeiro"


Venho pedir-lhe a mão de um donzela,
Para um amigo meu - Zé Tarrafeiro
Ele gostou de sua filha e ela
Foi até quem gostou dele primeiro.

Rapaz pobre, é verdade, mas direito,
Simples, modesto, bom, trabalhador,
Vive da pesca e goza do conceito
De ser aqui o melhor tarrafeador.

A cousa começou por um brinquedo...
Mas coração de gente é um rochedo
Onde a ostra do amor se vem pegar...

E o amor é como a ostra: quando pega,
Nunca mais do rochedo se desprega,
Não há nada que a faça mais largar...


(Poeta Waldemir Terra Cardoso)

POESIARTE EM FOCO DE VICTORINO CARRIÇO



A poesiarte apresenta: Victorino Carriço. Poeta. Foi membro da Academia Cabofriense de Letras e fundador do E.C. Brasil. Nasceu em 29 de julho de 1912 e morreu em 20 de maio de 2003. Lançou quatro livros de poesia, são eles: "Mar e Amar", "Vidas Mortas", "Se Voltares..." e a coletânea dos três livros juntos lançada em 1997.

Vejamos uma de suas poesias:

"Se eu pudesse..."

O que passou, passou, não volta mais;
O que vier, não foi o que passou.
Um bom passado só saudades trás,
Da boa infância que tão longe ficou.

Ficaram essas coisas para trás;
O tempo inexorável as sepultou.
Me dá vontade de correr atrás,
Disso tudo tão bom, que não voltou.

O beijo que eu dei na minha namorada.
Não se beija a primeira namorada;
A vontade nos fica a vida afora...

As aulas, férias, como é bom lembrar!...
Papai, mamãe; tão bom o nosso lar...
E a gente ausente disso tudo agora.

(Poeta Victorino Carriço)

sábado, outubro 22, 2005

ARTIGO DE JOSÉ CORREIA


A poesiarte apresenta: José Correia. Escritor, editor-chefe do Jornal de Sábado de Cabo Frio-RJ e membro da Academia Cabofriense de Letras.

Vejamos um de seus textos publicados no Jornal de Sábado:


“Salve o compositor e poeta Victorino Carriço”

Dia 20 de maio de 2003. Terça-feira. Dia da morte do compositor e poeta Victorino Carriço. Há quem defenda que devemos festejar a morte e não o nascimento, porque é no fim que sabemos quem a pessoa foi. O sentido festejar não me agrada, embora saibamos quem Victorino foi e que merece todas as homenagens. Estive no velório de Victorino no Charitas. Falei com familiares do poeta - com Ercília, com Fernanda - e como soube que o enterro seria no mesmo dia fui à sede da Rede Litoral e fiz um comentário para a Rádio Litoral chamando a atenção para a hora do enterro de Victorino Carriço. Voltei logo para o féretro. Estacionei o carro na Praça Porto Rocha, ia em direção ao Charitas e ali na altura do Bradesco vi que o acompanhamento ao corpo de Victorino Carriço em sua última passagem sob a ponte, como dizia Antonio Terra, não seria feito a pé. Vi motos da Guarda Municipal facilitando o trânsito para o carro da funerária com uma coroa de flores sobre o teto que era seguido por uma fila de carros. Voltei para pegar meu carro a fim de me somar àquela corrente de sentimentos e ouço alguém, desinformado sobre o que estava acontecendo, comentar: “Rapaz, morreu um figurão”. Caminhava pela Praça Porto Rocha e ia pensando na frase, “morreu um figurão”. Victorino Carriço um homem simples, honesto, bom, dedicado à poesia, passava anos quase que desapercebidamente pela rua (ele costumava justificar seus passeios em Cabo Frio - ele vinha do Arraial do Cabo, onde morava - com o ensinamento de que “mamãe dizia: é melhor andar à toa do que ficar à toa”). E naquela terça-feira, Victorino Carriço era visto como um “figurão”. Bem que ele merecia ser tratado pelo que representava. Foi o primeiro gerente de Banco em Arraial do Cabo e sub-delegado, em 1972 foi o vereador mais votado de Cabo Frio e presidente da Câmara. Mas Victorino Carriço não fez essa opção promissora que qualquer outra pessoa faria. Ele foi diferente, dissidente. Deixou tudo isso de lado e fez muitos hinos (as letras sempre com um ensinamento, uma filosofia de vida). O hino de Cabo Frio, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo, do Clube Tamoyo, da Álcalis, da escola Sagrado Coração de Jesus. Fez belas composições, como “Voltei ao Baixo Grande”. Ele criou porque faltava alguém para dar vida onde faltava vida. Fez sem cálculo, sem o menor interesse de transformar tudo isso em cifrões. Aquela existência oficial de ser vereador, gerente de Banco, de fundador de clube, era a vida repetitiva, sem criatividade. Esse figurino não cabia em Victorino porque ele era incomum. Ele se deu, comprometeu sua vida, seu conforto e o de sua família, por uma causa. Quantos sabem a luta que Victorino travou? Ele nos fez acreditar que o ser humano é bom, pode fazer coisas belas. A nobreza está neste projeto sincero de vida. Voltei a pensar na frase que havia ouvido na rua e me convenci: “Sim, morreu um figurão”. E a luz invadiu o abismo.


Ainda Victorino - Conheci bem Victorino ali pelos anos 1980. Freqüentemente ele estava na casa em que morava em frente ao Clube Tamoyo. Conversávamos. Hoje todo mundo tenta tirar uma casquinha de Victorino Carriço. Não pretendo fazer isso. Embora a diferença de idade entre nós fosse de 40 anos, tínhamos em comum algumas coisas. Estudamos no Colégio Brasil, em Niterói. Éramos da Academia Cabofriense de Letras, tínhamos amigos em comum. Ele me dava o privilégio de gastar o tempo com ele. Como Victorino, sempre me achei despreparado para tirar proveito da vida em seu sentido mais literal, ganhar dinheiro, falar sobre coisas objetivas. Embora achasse Victorino um nostálgico - ele disse em uma de suas canções, “não sei porque cresci”, num hino, “o passado não volta jamais”, e em outros momentos, a saudade de mamãe -, ele me lembrava meu pai e isso me agradava. Editava o jornal Aqui, onde Victorino publicava suas trovas/pensamentos. Sei algumas de cor. Estive com ele na Ponta do Ambrósio, ele me mostrando a casa onde nascera e a ponte ligando a Ponta do Ambrósio a Cabo Frio com seu nome, a Ponte Victorino Carriço, uma homenagem do deputado estadual Otime dos Santos. Acho sensacional a sua memória sonora, a de quem, em 1920, ouviu a queda da ponte de Cabo Frio. Em 1926, garoto, ele estava com sua turma do Sagrado Coração para a inauguração da Ponte Feliciano Sodré. Volto a terça-feira, no sepultamento. Que bela voz, a voz de Reci, mulher de Tonga, puxando o hino de Cabo Frio no enterro de seu tio Victorino Carriço. Quero colaborar em divulgar um desejo de Victorino Carriço: ele volta e meia me dizia que queria ser reconhecido como compositor e nem tanto como poeta. Salve o compositor Victorino Carrriço!
(Escritor José Correia)

POESIARTE EM FOCO DE JOSÉ CASIMIRO


A poesiarte apresenta: José Casimiro. Poeta e membro da Academia Cabofriense de Letras.

Vejamos um de seus poemas do livro "Lira do Povo":

"José de Dome"

Foi-se embora o grande artista
Porém, ficou o seu nome,
Que não será esquecido
- Esse que foi Zé de Dome.

Sendo ele um grande gentleman,
Sem ter rodeios verbais. Com seu
Nome por enredo
Nos grandes carnavais.

E salve o artista da capa,
Que é talentoso pintor,
Esse craque da paleta,
Manejando-a com amor.

(Poeta José Casimiro)

sábado, outubro 15, 2005

POESIARTE EM FOCO DE LINDBERG BRITO


A poesiarte apresenta: Lindberg Alburquerque Brito. Escritor e membro da Academia Cabofriense de Letras.

Vejamos um de seus poemas do livro "Romance no Paraíso" de 2003:


"Saudades"


Oh! que saudades de Ju...Juliana!
Menina doce que corria atrás de biju!
Seus olhos, brilhantes, da cor azul do mar...
Que acabou nos braços do Itajuru!

A riqueza não trouxe alegria, só fantasia!
E abandonou tudo para viver na magia!
Com um filho no ventre, foi uma paixão sofrida,
Mas ganhou o céu para a nova vida!...


(Lindberg Albuquerque Brito)

domingo, outubro 02, 2005

POESIARTE EM FOCO DE NELITA TEIXEIRA


A poesiarte apresenta: Nelita Teixeira. Poeta cabo-friense.

Vejamos um de seus poemas:


"A Chaminé"

Região de muita terra!
Um rio, montanhas e prados.
Aqui viviam dois povos,
Os puris e os coroados.
Nesta imensa região,
Outrora "Sertão Bravio",
Depois mui ricas fazendas,
de café era o plantio.
O gado e as plantações,
O progresso ia chegando.
O engenho de açúcar
A minha gente empregando.
Quando eu fui construída,
Em mil novecentos e três,
Fui orgulho do meu povo,
Como hoje, de vocês
Assisti toda mudança.
As ruas sendo calçadas,
Luz elétrica chegando,
Nas casas, água encanada.
E o movimento aumentando.
Máquina pra todo lado.
Mineiros e nordestinos,
Trabalho tinham um bocado!
Perguntei: que será isso?
Que reboliço, afinal!
O progresso ali estava:
Siderúrgica Nacional.
Tudo foi sendo mudado.
Nem gado e nem café.
Muita coisa derrubada,
Só eu continuo em pé!
E o povo participando
Com muita animação.
Por causa da CSN,
veio a emancipação!
Quem mais marcou seu progresso
Foram os trabalhadores.
Operários conscientes
De direitos e deveres
Eles fizeram a história
Sou testemunha e dou fé.
Quem lhes fala esta verdade,
É o marco histórico: a Chaminé.


(Poeta Nelita Teixeira)

HOMENAGEM PARA LEONARDO MACHADO



A poesiarte apresenta: Leonardo Machado. Cronista do Jornal de Sábado de Cabo Frio-RJ e médico. Morreu em 22/10/05. Conhecido como o único Pajé médico de Cabo Frio e amigo deste poeta criador deste blog. 


Vejamos um texto inédito de sua autoria:

"A Cadela"

Diana, uma cadela sem vergonha. Lindíssima, com um charme que todas as outras curvavam-se. Não havia um cão que não a paquerasse.
Gostava de cavalos, ora bolas era tesão dela embora criticada pelos donos.
Sempre chorou quando eu chorava, sempre sorriu quando eu sorria.
Não podia ir a rua que todos os cachorros a perseguiam. Tinha a altivez de atender a todos, fossem eles pulguentos, leprosos, ou com qualquer moléstia não conseguiam contaminá-la.
Era gente tão boa, que um dia construi um pequena casinha para ela, ela achou que era um castelo, cagou em cruz.
Diana meu amor, tanto fizeste que o destino se aporrinhou, pois ele só dá os prêmios a quem não os merece, veja aquele cachorro daquela mulher riquíssima que morava ao lado? Tanto insistiu que você acabou dando para ele. Não merecia.
Diana se não fosse esse fusca louco que atropelou eu ia casar contigo.
Trocaria você por qualquer mulher.

TE AMO! TE AMO! TE AMO!

(Leonardo Machado - cronista do Jornal de Sábado)






sábado, outubro 01, 2005

POESIARTE EM FOCO DE MANO MELO


A poesiarte apresenta: Mano Melo. Poeta e ator.


Vejamos uma de suas poesias:


"LEBLON DOS BRACARENTES,JOBILADOS
E GUANABARINOS"
Acordo ao meio-dia no sábado de tempo bom.
Vou fazer meu périplo
Pelo bairro do Leblon.
Começo na Rio-Lisboa,
Com um suco, média tamanho triplo,
Um pão na chapa e um ovo no ponto.
Sobre a morena elegante que virou a cara
E fingiu não me notar,
Depois eu conto.
Mas tem a ver com um lance
Lá no Guanabara,
Em que devorou uma pizza horrorosa
De sardinha com lingüiça.
Custava os olhos da cara,
E quem pagou fui eu.
(Antes fosse o Alceu,
Aquele poeta -valença com alma de criança).

Depois do café,
Caminhar a pé
Do Leblon a Ipanema.
Cruzei com Maria Lúcia,
Uma artista de cinema
Tipo assim loura devassa,
Em plena temporada de caça.
Perguntou se eu tinha um baseado,
Ou mesmo uma bagana.
Me ofereci como seu amado,
Seu ursinho de pelúcia,
Sua onça sussuarana,
Seu rato de banhado,
Mas só podia lhe oferecer
Uma pinga com limão.
Ela respondeu: nordestinos não me despertam tesão.

Não armei nenhum barraco.
Enfiei a viola no saco
E fui cantar noutra freguesia.

Já passava das três horas,
Entrei lá no Bracarense,
Dei de cara com o Zequinha, o Popó e a Renata
Da Academia da Cachaça
(Pena que Annette Leibing foi morar
em Toronto
Senão
estaria entre nós).
O professor Eppinghaus conversava com o Queiroz,
O alemão Günther e um português de Figueira da Foz.
Kiki, Laurinha e o doutor Marcus Renato

Levavam um papo cabeça com o Pedro Arquiteto
E o Chico Granadero.
Chegou o carequinha Nélson Ricardo
E uma torcedora do Fluminense.
Que belo traseiro!
Seu nome? Maria Joana,
De vulgo Maria Fumaça,
Que escreveu na camiseta:
O que vier a gente traça.
Cumprimentei Ernesto, Chico e Dirceu,
Tomei um chopp e saí fora
Com Cláudio Lisboa e mais dois roteiristas do Renato Aragão.
Fomos ao boteco do Joaquim
Na Rua Cupertino Durão
(Alguns preferem chamar de Rua do Cu Pertinho do Durão).

Dali para o Tio Sam.
Estava lá João Ubaldo
Acompanhado daquela morena dançarina do Tchán.
Os dois discutiam sobre Lacan.
Ela pediu ao garçon: me trás um caldo,
Meu Rei!
O cara ficou tão nervoso
De ser chamado de Rei
Por aquela Rainha
Que ao invés do caldo
Lhe trouxe um osso
Mergulhado na farinha.
Depois saiu dançando numa perna só
Cantando a musiquinha da eguinha pocotó.

No Arataca da Cobal
Avistei o Carlos Magno,
Figura rara, magnânima.
Leu a minha sorte e fez meu mapa astral:
Depois que completasse sessenta
Eu realizaria todos os meus amores
E acenderia charutos com notas de mil.
Morreria aos cento e trinta
Nos braços de uma ninfeta de noventa.

Do Arataca ao Gabriel dos Açores.
Encontrei Saraceni , Soraya, Maria Gladys, Ricardo Ruiz,
Renato,Tavinho Paes, Dalmo Castelo,
João Fontes, Abel Silva, Antonio Pedro e Mano Melo.
Depois chegaram a Eliane e o Chico Caruso.
O papo estava confuso,
Mas todo mundo feliz.
Antonio Pedro discursava que o Leblon era uma selva.
Uma selva de pedra - completava o Abel Silva.
- Selva de pedra não,
A Ilha das Maravilhas,
Rebateu, exaltado, o Ruiz.
- Nem ilha nem selva,
Uma praia,
Discordava o Renatão.
- Uma praia carinhosa, uma prainha!
Fechou Tavinho Paes, comendo um naco de pão.
- Data Vênia! Data Vênia!
Anistia para o chopp de vocês!
Discursou, impoluto, o João Fontes:
- É preciso fazer leis
Para preservar nosso horizonte!
Dalmo Castelo batucou na mesa
E criou na hora um samba-exaltação:
Maria Gladys é a rainha
A quem o sol diz bom dia
E Soraya uma sereia
Cercada de tubarão.
Batamos os copos,
Brindemos olhando nos olhos!
Quem brinda sem olhar nos olhos
Passa sete anos sem trocar o óleo!

Já vi onde termina o babado
Deste sábado.
Menino,
Nesse andar da carruagem,
Meu bolso vai bater pino.
Se eu passar no Bar do Tom
Talvez o João Sérgio me ofereça umas cervas.
Ou vou lá na Argumento,
Compro o disco do Nelson Sargento
E lavo o estômago com aquele chá de ervas
Que eles servem no Café Severino.

Vou descendo a ladeira -
Sem marcar bobeira, extrapolar meus porres
Nem ficar bebum.
Encontro o Alfredo, aquele jornalista do JB
De sobrenome complicado.
Jurou por Deus e por tudo de sagrado:
- Deixei de beber.
E convidou para uma dose de rum
No Café Antonio Torres
Da Letras e Expressões.
Beleza! Assim poupo uns tostões
Para a saideira.

E saideira que se preza
Tem que ser no Jobi.
Ó Paiva! reserva uma mesa
Para o meu chapéu.
Diz pra Melissa Mell
Que espere por mim!

POESIARTE EM FOCO DE ARTUR GOMES



A poesiarte apresenta: Artur Gomes. Poeta, ator e produtor cultural. Natural de Campos dos Goytacazes-RJ.

Vejamos uma de suas poesias:

"Língua Nova"

a língua
escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica
sagarínica
algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica

tudo o que quero conhecer
a pele do teu nome
a segunda pele
o sobrenome

minha língua não tem pátria

no que posso
no que quero
a pele em flor
a flor da pele
a palavra dandi
em teu corpo nu
a língua em fogo
a língua crua
a língua nova
a língua nua
fulinaímica
sagaranagem
palavra texto
palavra imagem
e no céu da tua boca
a língua viva
se transmuta na viagem.

(Poeta Artur Gomes)