1 – O que despertou você para a Literatura?
- Foi um caso de amor à primeira leitura, na escola da minha infância, na qual todo dia era dia de recital de poesia de Olavo Bilac (“Criança, não verás país nenhum como este”...), Castro Alves (“Auriverde”) pendão da minha terra/ que a brisa do Brasil beija e balança Não...), Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu (“Ai que saudade que eu tenho/ da aurora da minha vida”...), este pode levar à pergunta: como os meninos viriam a ter saudade da aurora de uma vida na qual ainda estavam? Mas não. O encanto que tais leituras traziam superava qualquer estranhamento. Nesse contexto, que seria um rabiscar os meus textos, que guardava o colchão da cama em que iria passar, com medo da vergonha, um adulto menor.
2 – Como nasceu o seu primeiro livro, “Um cão uivando para a Lua”?
- Ao visitar um amigo que estava internado num hospital, e sendo tratado com eletrochoques, senti um forte abalo emocional, provocado não só pelo que estava passando, mas por todo o ambiente ao seu redor. Ao voltar para o aparelho, pus no aparelho, um disco do trona de Davis lancinam, cãozinhos canção chamado para um cãozinho chamado para tocar uma terna “My funny Valentine trazer à memória a Lua. Foi aí que me surgiu a ideia de escrever a história de um doido a bater papo consigo mesmo o tempo todo. Oito meses depois eu tinha um romance nas mãos, que veio a causar um grande impacto na crítica e no público, lá se vão quase 50 anos. Tudo que me aconteceu depois foi uma consequência imediata, nas palavras de Aguinaldo Silva, na primeira resenha publicada sobre “Um cão uivando para a Lua”.
3 – No livro “Meu Querido Canibal”, como foi feita a pesquisa sobre o grande Cunhambebe?
- Aos retalhos: uma linha aqui, outra ali. Como Cunhambe dominava, a sua epopeia a escrita ficou aos verbetes dos brancos. Para contar a história dele tive de fazer um grande de reportagem, ao mesmo tempo em que dava asas à imaginação, pois, como não dispunha de elementos para escrever uma biografia, naveguei pelas águas ilimitadas do romance.
4 – De Sátiro Dias, cidade do interior baiano, para imortal da Academia Brasileira de Letras. Descreva o seu passado, presente e futuro de sua vivência.
- O levou a experiências que ainda me noutrem no presente, este tempo em suspenso em que uma pandemia sobreviverá, entre uma pandemia, e um futuro pandemônio, e qual futuro sobreviverá, para chegar ao futuro e boas histórias a serem bem contadas.
5 – Qual dos seus romances você mais se identifica?
- O que acaba de ser publicado, “Querida Cidade”. Estou todo, tanto na pele e na alma do seu protagonista, quanto de muitos dos personagens secundários, embora não se trate de um romance autobiográfico, e sim de uma narrativa com espaço total para a fabulação e a busca da corrente invisível rítmica do texto, o que, afinal, faz parte integral das minhas obsessões.
6- Qual sua análise sobre a Literatura no Brasil atualmente?
- Pelos muitos livros e livros excelentes que chegaram, deduzo que a nossa vai muito bem. Assim por alto, ao correr das teclas, cito os romances “esta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela”, de Ignácio de Loyola Brandão; “Um dia chegarei a Sagres”, de Nélida Piñon; “As meninas do coronel”, de Aramis Ribeiro Costa – um extraordinário romancista baiano ainda a ser descoberto no Sudeste -; “Terra fortaleza; de Eltânia André uma bela mineira no ponto para ser lida Brasil afora e afora incluo no mesmo caso o premiado Maurício Melo Júnior, de Pernambuco, de quem está lendo “Não me empurre para os perdidos”, seu 24º. livro, e segundo romance. Por fim, mas não por último, Itamar Vieira Júnior que, com “Torto arado”, se tornou o fenômeno da temporada. No conto, destaco “Todos os desertos: e depois?”, do sempre bom mineiro Ronaldo Cagiano. Fecho a lista com “A Terra em Pandemia”, poema narrativo longo de Aleilton Fonseca, que é também romancista (“Nhô Guimarães” e “O pêndulo de Euclides”), além de contista e cronista. Há mais e mais na minha bancada aqui ao lado, para todos os gostos literários. Viva o escritor brasileiro.
7 – Como prosador, já se aventurou na escrita poética?
- Sim, no começo, quando era o menino queria ser Castro Alves. Ao chegar a adolescência, um professor me disse: “Acho que você vai se melhor na prosa do que na poesia”. Os meus títulos divulgados até agora que ele estava certo. Mas meu fascínio pela poesia continua o mesmo de quando a descobri na escola da minha infância rural.
8 – Conta um pouco sobre o seu novo livro “Querida Cidade”.
- “Querida Cidade” surgiu de um sonho, belamente refletido em sua capa pelo gráfico do artista Leonardo Iaccarino. É o meu 12º. romance, e levou 12 anos para chegar ao ponto final. Acaba de ser publicado pela editora Record e já está em todas as livrarias e também pode ser encontrado na Amazon, que entrega em casa. Foi escrito tendo por mote uma música “Dolores Sierra”, quando diz que quem nasce na roça tem sempre a ilusão de viver na cidade. E resulta numa história cheia de histórias brasileiras. Já há quem diga que é o meu melhor romance. Tomara que seja mesmo.
9 – Deixe uma mensagem para nossos leitores e amantes da boa literatura.
- No país que deu Machado de Assis, Raquel de Queirós, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Clarice Lispector etc., só podemos ter fé e orgulho na nossa literatura. No mais, é como dizia o poeta português Alexandre O'Neill, meu amigo de toda a vida:
“Folha de terra ou papel,
Tudo é viver, escrever”.
*Entrevista também publicada no site Crônicas Cariocas no link abaixo:
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