ENTREVISTA EXCLUSIVA
Organização: Grêmio Literário Internacional Poesiarte (GLIP)
Convidado: Domingos Chipunducua Cutala Chavola
País: Angola.
Entrevistador: Anthony Rasib.
Cargo: Diretor de Marketing e Intercâmbio Internacional do GLIP.
1. No cenário da literatura lusófona hoje, qual é a função das Academias de Letras e Associações Culturais (Angola e Brasil), e por que a força e o impulso criativo de grupos como o Grêmio Literário Internacional Poesiarte são essenciais para que a nova literatura ganhe o mundo?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: As Academias de Letras e Associações Culturais desempenham um papel fundamental no fortalecimento da literatura lusófona contemporânea. Elas funcionam como espaços de preservação da memória literária, promoção de novos talentos e incentivo à produção intelectual. Em Angola e no Brasil, essas instituições são responsáveis por fomentar o diálogo intercultural, valorizar as línguas nacionais e regionais, e criar pontes entre gerações de escritores.
Grupos como o Grêmio Literário Internacional Poesiarte são essenciais porque trazem uma energia criativa renovada, conectam autores emergentes com o público global e promovem a literatura como ferramenta de transformação social. O impulso desses coletivos permite que a nova literatura ultrapasse fronteiras, ganhe visibilidade internacional e dialogue com outras culturas, sem perder suas raízes.
2. Como poeta e pensador em Angola, qual foi o seu primeiro contato significativo com a literatura brasileira? Houve algum autor ou livro específico que teve um impacto ousado na sua formação ou que o senhor considera essencial para a ponte cultural entre os dois países?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Houve sim um autor que me impactou profundamente: Mara Regina. Embora eu não consiga identificar um livro específico, tive contato com alguns de seus textos poéticos que me marcaram de forma significativa e ousada. Suas palavras despertaram reflexões sobre a cultura brasileira e angolana, revelando conexões profundas entre os dois universos literários. A escrita de Mara Regina Ferreira tem um impacto notável sobre mim sempre que a leio. (DOURADO E SOMBRA, CASA DOS POETAS).
Trechos das obras mencionadas, respeitando os direitos autorais:
Dourado e Sombra
"Sou feita de luz e sombra,
de silêncio e tempestade.
Carrego o dourado dos dias bons
e a sombra dos que me moldaram."
Esse poema reflete a dualidade da existência, com uma linguagem poética que mistura força e vulnerabilidade.
Casa dos Poetas (trecho do áudio-poema)
"Na casa dos poetas,
cada palavra tem alma,
cada verso é abrigo,
e cada silêncio, um grito contido."
Esse trecho celebra o espaço simbólico da poesia como lar e resistência, onde a palavra é sagrada.
3. Natural do Chinguar, Bié, como a sua origem e a rica cultura dessa região de Angola moldaram a sua perspectiva como poeta e pensador? De que forma essa identidade local se torna o seu cenário literário global?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Desde muito cedo, entre os anos de 2006 a 2010, comecei a lidar com a literatura por meio da composição de músicas locais. Mais tarde, fui me apaixonando pela poesia, especialmente ao ter contato com pessoas que já atuavam nesse campo. Em 2020, ingressei na Associação de Jovens do Sul (AJE-SUL), graças ao incentivo do meu irmão mais velho, Júlio Chavola, que sempre acreditou no meu potencial. Ele me ajudou a aprimorar minhas escritas e me impulsionou a fazer parte de uma das Academias de Literatura do Brasil. Hoje, ele é autor do e-book "Actos da Igreja em Marcha", uma obra bastante interessante. Essa trajetória moldou minha visão poética e filosófica, transformando minha identidade local em uma voz literária com alcance global.
4. Sua trajetória abrange poesia, pensamentos filosóficos e palestras motivacionais. Qual a missão essencial que move o senhor na comunicação cultural através dessas diferentes mídias e qual o maior diferencial que busca trazer ao seu público em Angola, com foco na sua visão ousada?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Viva! Essa é uma pergunta profunda que toca na linha tênue entre cultura, tradição e literatura. Gosto de citar Rick Warren, que diz: "Os homens têm identidade e valor sem iguais, e sobre esse fundamento podem estruturar sua autoestima." Ele nos lembra da importância de termos alta consideração por nós mesmos, sem nos julgarmos superiores aos outros.
Infelizmente, tenho observado líderes religiosos abandonando suas responsabilidades durante cultos, o que revela uma falta de zelo e dedicação. Minha missão é usar as mídias para propagar mensagens de reflexão, incentivando o temor a Deus e o reconhecimento de Sua eternidade, independentemente das circunstâncias da vida. Esse é o diferencial que busco: uma comunicação que une fé, cultura e literatura com ousadia e propósito.
5. Como você, enquanto poeta e observador social, percebe o sentimento atual da África e de Angola em particular em relação à manutenção de suas raízes e cultura? Você vê um movimento mais ousado de resgate e valorização das identidades tradicionais, como a da sua terra natal, Bié?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Nem tanto assim, né? Mas digo sim! Há um esforço crescente por parte de algumas organizações que têm se dedicado ao resgate e valorização das identidades tradicionais. Esse movimento envolve apoio moral, ético e cultural, e tem contribuído para fortalecer as raízes locais e promover o orgulho da nossa herança.
6. Na sua opinião, qual é o valor estratégico de projetos de comunicação como esta entrevista para Grêmios Literários Internacionais e Academias? De que forma você acredita que essa divulgação beneficia e incentiva novos talentos na literatura lusófona?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Projetos como esta entrevista têm um valor estratégico imenso. Eles promovem uma interação direta, seja por interfaces digitais ou por meios auditivos, permitindo maior fluidez nas abordagens. Criam espaços online onde participantes podem interagir, aprender e se inspirar. Essa divulgação amplia o alcance das ideias, incentiva novos talentos e fortalece a literatura lusófona como um campo de expressão plural e vibrante.
7. Seu projeto OB/JUDEC atua em alfabetização e doações. Como a sua visão de poeta e professor teológico influencia a forma como o projeto atua, e qual é o impacto mais profundo que você observa nessas atividades de ação social com crianças e adultos no Bié?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Exatamente! O impacto mais profundo é a transformação de vidas para Cristo. Levamos bens materiais às famílias vulneráveis e às crianças fora do sistema escolar, com o pouco que conseguimos arrecadar. Mas, acima de tudo, mostramos o caminho que leva ao Céu. Essa missão é guiada pela fé e pela convicção de que a educação e a espiritualidade caminham juntas.
8. Em sua experiência com o OB/JUDEC, você observou uma carência de incentivo à leitura e à literatura na comunidade do Chinguar? Como você avalia a importância da alfabetização e da arte para a dignidade e o bem-estar dos cidadãos?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Sim, observei essa carência e temos criado métodos para enfrentá-la. Embora ainda não esteja em prática, temos a perspectiva de abrir uma biblioteca comunitária até 2026, em parceria com o governo local. Queremos incentivar estudantes de escolas públicas e privadas, pois a literatura tem um papel essencial na formação da juventude. Mesmo que nem todos tenham acesso imediato, muitos colherão os frutos no futuro. A literatura forma o homem novo.
9. Sendo poeta e professor, qual a sua opinião sobre o poder da poesia e do pensamento filosófico como ferramentas para a saúde mental e o bem-estar da comunidade? De que forma a sua escrita oferece alívio e reflexão?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: Ehhh! Quanto a essa questão, digo o seguinte: podemos estar no mesmo ramo, mas há quem floresça antes dos outros. A vida é cheia de desafios, e chega um momento em que começamos a questionar seu verdadeiro valor. Quando percebemos para onde estamos indo, a vida se torna nosso melhor professor.
Sucesso não é apenas perder, como muitos pensam, mas saber ganhar o dobro. Às vezes, preferimos não ter razão só para ter paz. Algumas coisas acontecem por propósito, e somos acusados sem que saibam nosso verdadeiro foco. Chamam-nos de irracionais, mas nossos pensamentos filosóficos e poéticos carregam sentido. Eu sempre digo: as palavras têm poder porque carregam significados. Deixe que eles se acostumem.
10. Qual é o papel atual do Estado angolano no apoio à cultura e à literatura, e quais mudanças você sugere? Além disso, você vê o surgimento de novos poetas e escritores na sua comunidade? Qual é a maior dificuldade que esses jovens e crianças enfrentam hoje para desenvolverem e divulgarem suas obras?
Domingos Chipunducua Cutala Chavola: O Estado angolano está a apoiar mais a cultura e a literatura com novos planos, mas ainda há desafios para os jovens escritores. Eles enfrentam falta de apoio, divulgação e acesso a livros.
O governo Angolano criou um Plano de Apoio e Promoção da Cultura (PLANACULT), aprovado em abril de 2025. Esse plano tem como objetivo:
Melhorar o ensino artístico nas áreas de música, dança, teatro, literatura, artes visuais e cinema.
Apesar disso, muitos artistas e escritores ainda sentem que o apoio não chega até às comunidades mais pequenas ou zonas rurais. Há muitos jovens com talento que escrevem poemas, contos e até livros. Eles usam redes sociais, grupos escolares e eventos locais para mostrar o seu trabalho. Mas nem todos conseguem ser vistos ou reconhecidos. A falta de bibliotecas e livros acessíveis está na base, poucas oportunidades de formação artística, dificuldade em publicar e divulgar suas obras, falta de apoio financeiro ou incentivo nas escolas.
Contudo, quero dizer com isso: melhorar, seria bom:
Criar mais bibliotecas comunitárias e clubes de leitura, apoiar editoras locais para publicar obras de jovens, promover concursos literários nas escolas e não só, dar formação gratuita em escrita criativa e literatura... Enfim, né!
Agradeço sinceramente por esta oportunidade. Esta entrevista foi mais do que uma conversa, quanto a mim foi uma experiência marcante, daquelas que ficam na memória. Raramente me senti tão inspirado e acolhido. Muito obrigado por esse momento tão especial. Grato de coração Nobre Poeta Anthony pelo convite e pelo Grêmio.
Quem é Domingos Chipunducua Cutala Chavola
Casado, 31 anos de idade,
Pai de 2 filhos (Josué e Avelinda).
Natural de Chinguar, Bié, em Angola.
Instrutor de Autoescola, Professor Teológico na Academia de Pregadores do Chinguar, Vice-Presidente da Organização Bethel/JUDEC, e desenvolvedor do Projeto Organização Bethel/JUDEC (OB/JUDEC), onde realiza atividades de ação social com crianças e adultos.
O projeto é constituído por uma equipe que atua em diversas áreas, como: Alfabetização, doações, e realização de eventos, tais como workshops, Simpósios, Fóruns e outras mais.
É Poeta da ALB, uma Academia de Literatura do Brasil, e em Angola, da AJE-SUL.

Nenhum comentário:
Postar um comentário