segunda-feira, fevereiro 28, 2011

ENTREVISTA COM DIRLEI PEREIRA





*Vejamos uma entrevista com o ex-vereador Dirlei Pereira de Cabo Frio, feita por Rodrigo Poeta:


-Nome: Dirlei Pereira da Silva
-Data de nascimeto: 10/10/1956
-Cidade de origem: Cabo Frio/RJ.
-Cidade que representa: Cabo Frio/RJ.
-Atividades: Político e empresário.
-Site ou blog: www.sosdirlei.com.br
-E-mail: sosdirlei@hotmai.com & dirleipereira@uol.com.br

1-Cabo Frio desde a década de 70 no século passado anda crescendo demais. O segundo distrito cresceu de uma forma assustadora nestes último dez anos. Como você analisa o crescimento populacional de Cabo Frio de maneira desordenada?

*Dirlei: Creio que, sobretudo em Tamoios, a absoluta ausência do Poder Público acabou por permitir uma espécie de vale-tudo. O maior exemplo disso são as construções, tanto as residenciais, como as comerciais, que com raras exceções, desobedeceram frontalmente aos Códigos de Obras e de Postura. Cada um construiu o que quis e como quis, sem obedecer a regras básicas como recuo e gabarito, dentre outras. E o poder Público nada fez para inibir tais absurdos.

2-População cresce e os problemas também. Como solucionar isso?

*Dirlei: Se estivéssemos falando de São Pedro da Aldeia, de Arraial do Cabo, de Iguaba ou de Varre-Sai, evidente que seria muito complicada a situação. Mas estamos falando de uma cidade que somente nos meses de janeiro e fevereiro arrecadou mais de R$ 100 milhões de reais. Para se ter uma idéia do que isso representa, São Pedro da Aldeia provavelmente não arrecade esse valor em todo o ano de 2011. Quero dizer com isso que basta vontade política, respeito ao dinheiro público e amor a terra. Cabo frio é uma cidade rica. Se bem administrada em pouco tempo esse quadro caótico de hoje pode tranquilamente ser revertido.

3-Como solucionar os problemas voltados ao meio ambiente na cidade?

*Dirlei: Hoje temos dois graves problemas na questão ambiental que precisam urgentemente ser atacados. O primeiro é a desmobilização dos movimentos ambientais. São raras as vozes que se levantam para denunciar ou para combater os crimes ambientais que aqui acontecem. Num passado recente, muitas pessoas brigavam, gritavam, iam para as ruas denunciar os crimes ambientais. Hoje, essas pessoas estão atreladas ao governo municipal, com portarias, com boquinhas. São fantasmas e por isso perderam a autoridade moral para reivindicar ou denunciar qualquer coisa.

O segundo problema, também tem relação direta com o poder público municipal. Falo da secretaria de desenvolvimento à qual está subordinada a coordenadoria de meio ambiente. Quem é o secretário de desenvolvimento? É Gustavo Beranger, um dos maiores empresários do ramo imobiliário da cidade atualmente, sendo que alguns empreendimentos de Gustavo como empresário nos últimos seis anos são, no mínimo, questionáveis. Pois, paradoxalmente, é Gustavo Beranger que, como secretário de desenvolvimento, preside o Conselho Municipal de Meio Ambiente. Isso é o mesmo que entregar as chaves do galinheiro à raposa.

4-De que maneira pode-se combater o desemprego na cidade?

*Dirlei: Hoje Cabo Frio arrecada R$ 1,5 milhão (um milhão e meio de reais) por dia, são quase 50 milhões por mês, meio bilhão de reais Por ano. A receita é simples: basta fazer circular toda essa riqueza na cidade. Hoje, entretanto, essa montanha de dinheiro entra e sai dos cofres municipais todo mês, sem que ninguém saiba onde está sendo empregado. É preciso a prefeitura fazer obras, é preciso pagar bem aos funcionários, é preciso a prefeitura comprar no comércio local, é preciso que as empreiteiras sejam da cidade. Feito isso, teremos uma cidade pujante e uma economia geradora de riqueza, renda e emprego.

5-Por que existe tanto descaso com o patrimônio histórico da cidade há décadas?

De certa forma essa pergunta já foi respondida na pergunta relacionada ao meio ambiente. Quem poderia denunciar, gritar, espernear contra a destruição do nosso patrimônio na verdade está ou diretamente atrelado à prefeitura ou tem um filho, o pai, um tio, algum parente próximo  nessa situação de dependência. Enquanto essa relação de cumplicidade não for rompida, os crimes contra o patrimônio vão continuar acontecendo.

6-O que fazer para melhorar o atendimento ao público nas lojas?

*Dirlei: Na economia moderna a grande demanda é por qualificação. É necessário que as associações representativas da classe empresarial e o poder público invistam pesado em qualificação.Para isso existe o chamado sistema “S”, como SENAC, SENAI, SESI, dentre outros.

7-Fale um pouco de sua carreira política.

*Dirlei: Fui eleito vereador pela primeira vez, em 1982, quando ainda morava no Araçá, em Tamoios. Em 1988, embora suplente, acabei voltando a Câmara em boa parte daquela legislatura. Em 1992, de novo o povo me elegeu vereador. Foram 3 mandatos exercidos com independência, muita seriedade, com atuação implacável na defesa da coisa pública, do dinheiro público. Na Câmara fui autor de muitas leis importantes, como por exemplo, a Lei que criou o PROCON Municipal. Em todos esses anos de mandato, presidi importantes comissões do legislativo, ocupei importantes cargos na mesa diretora. Além disso, os livros de atas registram que entre os vereadores que mais usou a Tribuna da Câmara em toda história do Poder Legislativo de Cabo Frio. Fui por vários anos líder de bancada, líder de governos, líder da oposição. Na prefeitura, já ocupei secretarias, fui subprefeito de Búzios (quando ainda terceiro distrito de Cabo Frio) e subprefeito de Jardim Esperança e adjacências. Fui também, ao longo da minha vida pública, presidente de dois partidos.
Minha vida pública sempre teve a marca da coragem. Sempre disse o que penso de forma clara e contundente, quer em programas de rádio, de TV, como nos artigos em jornais, que sempre assinei. Quando a Inter TV (antiga TV Lagos) lançou um programa de debates e entrevistas (o Programa Opinião) fui o primeiro a ser entrevistado. Fui também o primeiro entrevistado do Programa Cartão Vermelho, à época apresentado pelo Barreto Júnior. A passagem a R$ 1 real, por exemplo, o projeto é meu, toda a população sabe disso. Ainda hoje encontro as pessoas nas ruas e elas me dizem: Marquinho Mendes roubou seu projeto. Mas eu digo a elas que Marquinho não roubou meu projeto, porque o meu projeto de passagem a 1 real em nada se parecia com isso que está aí. No meu projeto, haveria a desoneração do transporte. A empresa Salineira teria a redução de impostos e seria obrigada a apresentar à prefeitura uma Planilha com todos os seus custos. A margem de lucro também seria reduzida. O projeto de Marquinho coloca no bolso dos donos da Salineira quase R$ 1 milhão de reais, todo mês, dinheiro que sai da educação e da saúde. E ninguém fiscaliza nada, ninguém controla nada.
    
8-Por que ainda vivemos de maneira provinciana de pensar politicamente?

*Dirlei: Porque, infelizmente, as pessoas que pensam de forma diferente, ou acham a política uma coisa suja e aí se omitem, ou então não conseguem se fazer ouvir, uma vez que os que agem de forma provinciana são exatamente aqueles que detém o poder econômico e o poder político.

9-Por que se torna difícil fazer cultura na Região?

*Dirlei: Enquanto a elite dirigente for esse tipo de gente que aí está no poder, a cultura vai ser sempre relegada a um plano absolutamente secundário. É preciso urgentemente mudar esse estado de coisas, mas isso só vai acontecer quando a sociedade desbaratar essa organização criminosa que está no poder, organização que pensa que a consciência livre das pessoas está à venda.

10-Ser filho de Cabo Frio é pecado ou a Terra foi feita para forasteiros?

*Dirlei: O hino de Cabo Frio, de autoria do saudoso Vitorino Carriço, tem uma frase que diz assim: “forasteiros não há forasteiros pois nessa terra todos são iguais”. Nossa população é formada por pessoas de todos os cantos do Brasil. Creio que o problema não está aí. O problema é a falta de oportunidades. A questão não é ter nascido aqui ou em outro lugar. O grande problemas é que vivemos uma inversão de valores. Assim, de nada adiante ser competente ou ser mais qualificado. Na “lei do Gerson”, o que importa é levar vantagem em tudo. E em nossa cidade, atualmente, só prevalece quem é mais esperto.  

11-Deixa uma mensagem para posterioridade.

*Dirlei: Os homens passam, mas seus ideais vivem para sempre.



*************************************************************
*Observação: As respostas são de inteira responsabilidade do entrevistado, pois não seguimos eu como editor do blog e os colaboradores nenhum vínculo político partidário. 

Um comentário:

Dani disse...

Legal a entrevista! Espero que repita a dose com outros políticos, é sempre bom conhecer a visão deles sobre temas relativos à cultura e acho até que poderia explorar mais esse lado, já que seu blog é cultural.
Achei interessante o que o Dirlei falou sobre a Prefeitura oferecer oportunidades ao comércio e as empreiteiras locais, mas sabemos que esses arranjos políticos são necessários, pois existe o interesse numa articulação que busque forças fora do município... coisas partidárias, de cargos políticos e por aí vai...
Quanto à resposta referente ao caso do Secretário de Desenvolvimento - acontecimento que se tornou comum no nosso cotidiano alienado - deve fazer Montesquieu se desesperar, onde quer que esteja... Ignorando, de longe, a Teoria da Separação dos Poderes (Princípio Constitucional Brasileiro!), os "representantes do povo" vão, assim, exercendo um poder que não é legítimo, mas obtido por coerção, despolitização, dependência etc.
Sugiro abrir uma mesa redonda...rs
Parabéns, poeta!